Conto de primavera... sobre fantasmas e outras lendas

Sempre chove fino nos dias que precedem a primavera... Certa vez, ao chegar da escola deparou-se com os olhos mais verdes que jamais vira em todos os seus doze anos de existência.
Ela ensaiou um grito agudo, mas calou-se num soluço abafado. Elvis a fitava da parede em frente à porta que ela ainda não fechara. Tinha os cabelos dourados e um sorriso enigmático.
Claro que já vira Elvis Presley na tv, mas aquele encontro foi mais que assustador. Foi revelador, apaixonante...
Todos os dias e durante duas semanas, ela descia as escadas e, sem olhar para trás, corria até a porta e saia para a rua. Sabia que ele a acompanhava com olhar e aquele sorriso que lhe causava um frio lamínico na espinha.
À tarde, abria a porta olhando para os pés, ou fechava os olhos bem apertados para não dar de cara com seus fantasmas.
Foi numa tarde de solstício. A chuva era de açoite mas já ia parar por que era seu aniversário. Ela entrou primaveril e corajosa para encará-lo.
Elvis não estava mais lá. A parede estava nua a espera de outra moldura já providenciada
em cima do sofá. Cavalos. Sua mãe adorava cavalos.
Sentiu alivio. Liberdade. Sentiu tristeza. Uma angustia a pairava. Tanto tempo fugindo de seu olhar flertivo... Apaixonou-se?
Triste subiu as escadas. Triste passou pelo corredor. Triste abriu a porta do quarto e fechou, e despiu-se, e olhou no espelho seu corpo magro e juvenil.
Sentiu borboletas no estomago e não era fome. Era pudor. Era vergonha.
Elvis a observava da parede. Estava bem acima da cama, de frente para o espelho. Ele sorria e ela retribuiu evidenciando as covinhas do rosto. Sentiu todos os pêlos do corpo arrepiando. Cobriu-se. Correu para fora do quarto, correu para o banheiro, estava sozinha, a casa vazia.
Teve medo mais uma vez. Medo e desejo. Mas sua mente era jovem, infantil. O desejo confundiu-se, achou que era vontade de fazer xixi e fez. Foi tomar banho.
A água estava fria e ela sentia sua presença. Elvis estava em sua mente. Estava lá com ela vendo a água fria do chuveiro tocar sua pele leitosa.
Primeiro as mãos de dedos finos e unhas ruídas. Depois os pés magros e as pernas até os joelhos machucados por quedas e peraltices. Molhou a cabeça, a água escorria pelos cachos dos longos cabelos castanhos, escorria pelos ombros e braços, barriga e pélvis.
Elvis a via, a falta de pêlos pubianos, e ela sentia sua presença e sentia seu cheiro de morte. Fantasma! Era um cheiro de rosas, um cheiro fresco de rosas. Foi ele que a fez esfregar o corpo com mais sutileza, ele a acariciava. Eram as mãos dele em suas mãos contornando os montículos onde nasceriam os seios. Pernas, pés, braços, costas, pescoço, rosto, cabelos...
Vergonhosamente, explorava as parte mais intimas de seu corpo e mente. Seus sentidos a dominavam, seus pudores a condenavam, sua inocência mistificava a plenitude natural de suas descobertas...

... Elvis sorri todos os dias na parede do quarto a sua espera.



Comentários

Unknown disse…
Achei o texto lindo... ainda vou transar com um poster da Angelina Jolie.
Tbm achei lindo(apesar de nunca ter tido um ídolo assim,por quem eu me apaixonasse.Coisa normal de adolescente né?)
Foi a Lucy que escreveu não?
Mateus disse…
Gostei do texto. É difícil uma boa narrativa na web.

http://paralaxehiperbolica.blogspot.com
Valter disse…
Biazudaaa, a menina tá se masturbando na intenção do Elvis????? PUTA QUE PARIU!!!! KKKKK
Luis de Camargo disse…
é siririca mermo meu filho.. siriricaaaa


e meu texto lôra, publica ou não publica?
Ferdi disse…
HÁ, que texto ótimo!

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