Marina PARTE I


Os olhos de Marina ainda habitam meus sonhos. A inocência daquele olhar apaixonado e triste me tirou para sempre a tranqüilidade.
Ainda lembro nitidamente a primeira vez que a vimos.
As finas pernas cobertas pelo jeans desbotado. Dava passos largos sem qualquer rebolado. Tinha um olhar andrógeno, fixo no horizonte. Os braços tinham um balanço coordenado sem muita naturalidade.
Já tinha aquela instigante mania de vestir blusas curtas deixando a barriga quase que completamente de fora. Os pêlos dourados tilintavam ao sol refletindo o piercing que evidenciava seu umbigo delicadamente profundo.
Aquela silhueta magra e esguia vinha em nossa direção num vôo rasante, os cabelos num tom vermelho acobreado bem cacheados na altura dos ombros voavam com o vento produzido pela velocidade em que andava.
Andava rapidamente, pois atravessava a avenida. Desceu da calçada sem olhar para os lados como se fosse cometer o suicídio obrigando os carros a parar bruscamente.
Ela não corria, tinha apenas os passos longos e acelerados. Mas sempre me lembro do momento de sua aproximação em câmera lenta.
Julia estava ao meu lado no banco do carona também observando.
- A descrição bate, eu acho que é ela. Meu deus! Nos mandaram uma criança.
De fato tinha um ar juvenil... Aparentava ser uma ninfeta de treze ou quatorze anos.
Os tênis AllStar pretos com cadarços cor-de-rosa choque e as pulseiras coloridas fluorescentes não deixavam dúvidas de que ainda não saíra da adolescência.
- Luís você tem certeza que ela e maior de idade?
- Foi o que os caras disseram. – Eu me virei para Julia sem olhar para ela. Não queria tirar os olhos daquela menina.
-Acho melhor irmos embora.
Julia me obrigou a fitá-la.
-Ir embora...? –  Senti um pouco de irritação. - Mas... Ela está vindo para cá.
Já ia dar as costas a Julia novamente quando algo pousou em nosso carro.
Parada, apoiada no capô, com os braços e as pernas cruzadas. Sua nádega tocava o retrovisor e Marina olhava diretamente para mim.
Tinha a cabeça baixa e algumas mechas de seu cabelo cobriam o rosto, mas dava para ver seus olhos erguidos e sobrancelhas arqueadas compondo um olhar espevitado. Os lábios finos esboçavam um sorriso sem mostrar os dentes, apenas as covinhas do rosto branco e sem qualquer sinal de maquiagem.
Eu abri a porta do carro sem tirar os meus olhos dos dela.
Ao levantar para sair, devo ter desviado o olhar por um milésimo de segundo para me assegurar de onde estava pisando, foi tempo o suficiente para que ela encontrasse o olhar de Julia.
As duas trocaram sorrisos de cumprimento e eu aproveitei para analisar “clinicamente” aquela “encomenda”.
Ela parecia consentir a minha análise. Descruzou os braços e as pernas e se apoiou no capô com os cotovelos, deixando totalmente a vista seu corpinho juvenil. Usava um decote extenso, a blusa dançava a cada movimento me permitindo por duas ou três vezes ver o róseo de seus mamilos e os pelinhos dourados que os circundavam.
Totalmente fora do carro, tomei ar para fazer o primeiro contato, mas foi ela quem deu a primeira palavra e depois, como iríamos ver mais tarde, era um habito constante, fez questão de dar a última também.
- Você se chama Luis mesmo?
- Sim. E você é Gaia...
- Claro que não, meu nome é Marina. -E disse isso com um sorriso natural no canto da boca.
Por poucos instantes eu tive novamente seus olhos nos meus, mas bastou que Julia se principiasse a sair do carro para que ela novamente desviasse aqueles olhinhos pequenos e castanhos para os movimentos da minha mulher.
- Então, você é maior de dezoito? – Tentei trazer sua atenção para mim novamente.
-Claro!- suas respostas eram tão naturalmente evasivas. - Na verdade, tenho exatamente dezoito. – continuou, olhando ainda para Julia, que se aproximava dando a volta pelas minhas costas.
Marina parecia hipnotizada por Julia e isso me deixava enciumado, eu nem sabia direito o porquê.
- E quais são seus planos? – Ela ainda fitava Julia.
Seu olhar parecia me atravessar como a um vidro transparente.
- Nós vamos a uma festa... Depois a gente vê o que faz.
Julia respondeu num tom sereno e sarcástico.
Na verdade tanto Julia e eu, quanto Marina, já sabíamos quais eram os planos.(continua...)

Comentários

Saudades dos seus escritos...
Eita que agora é esperar o desfecho hein?!

(curiosa)
Augusto Dias disse…
Há tanto nesta cabeça que escorre olhos... língua... corpo a fora.

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